Wednesday, December 17, 2014

Para reitor da USP, denunciar estupro é "ação inquisitória"

Fonte:  - GELEDÉS



zago


Por Ivan Longo 
Enquanto centros acadêmicos, movimentos sociais, coletivos e até a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) se mobilizam para amparar as vítimas, colher denúncias e promover debates acerca dos recentes casos relatados de estupros e violações de direitos humanos na Universidade de São Paulo (USP), a reitoria prefere minimizar o problema, classificando as denúncias como ações “inquisitórias” e “purificadoras”.
A definição partiu do próprio reitor Marco Antonio Zago, na última reunião do Conselho Universitário do ano, realizada na última terça-feira (9). Depois de anunciar o corte orçamentário de 30% para o ano que vem, Zago introduziu a pauta das denúncias, mas optou por criticar as próprias pessoas vítimas ao invés de centrar suas críticas aos agressores.
“São casos isolados de alguns (…) A USP não irá, como querem alguns, promover autos-de-fé (…) As denúncias são ações inquisitórias e purificadoras”, afirmou.
O relato partiu de quatro representantes discentes, alunas da graduação, que estiveram presentes na reunião. Segundo elas, professores e diretores que também estavam no encontro tiraram sarro das alunas nos momentos em que tinham a fala e um deles, inclusive, teria depositado a culpa dos relatos de violência no Diretório Central dos Estudantes (DCE) e no movimento estudantil. “Uma menina de calcinha no trote é um passo para o estupro”, disse. 
Em sua fala, a representante discente Gabriela Ferro afirmou que alguns diretores vêm omitindo os casos de violações de direitos. Um diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, então, em tom provocativo, teria feito piada e perguntado se estava incluído entre eles.
De acordo com as estudantes, entre pouco caso e piadas – um dos professores ainda teria filmado, através de um celular, a fala de uma delas para constrangê-la – o ápice da reunião teria sido quando o reitor Zago protagonizou um ataque moral contra uma das alunas.
“Após o pronunciamento de uma das RDs sobre o tema orçamentário, Zago simplesmente não reconheceu a legitimidade dos argumentos apresentados e, de modo arbitrário e autoritário, diante de todo conselho, ordenou que a mesma voltasse ao microfone e se retratasse, posto que o reitor discordava de seus argumentos. Ao tomar a palavra, a RD imediatamente foi interrompida pelo reitor, que gritava repetidas vezes, em altíssimo tom de voz: ‘você é incapaz de me responder’, ‘você é incapaz de me responder’”, afirmou a representante discente, aluna de Nutrição, Vanessa Couto.
A USP, até o momento, não se pronunciou em relação ao relato das alunas. Em nota publicada no dia da reunião, no site da instituição, o reitor Zago apenas afirma que “a Universidade de São Paulo é detentora de respeitável história no campo da defesa dos direitos individuais e sociais” e reforça sua fala da reunião: “Ações isoladas de alguns, sejam estudantes, docentes ou servidores, não desviarão a USP do seu papel de baluarte na defesa dos direitos humanos, o que não significa promover autos de fé, como querem alguns: todos sabem aonde levam ações inquisitoriais e purificadoras”.

Leia a matéria completa em: Para reitor da USP, denunciar estupro na universidade é “ação inquisitória” - Geledés
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English

For USP's dean, reporting rape is "inquisitorial action"
Source:  GELEDÉS

By Ivan Longo

While academic centers, social and collective movements, and the  State of São Paulo Legislative Assembly* (Alesp) mobilize to protect the victims, collect complaints and promote discussions about recent reports of rape and human rights violations at the University of Sao Paulo (USP), the rectory prefers to minimize the problem, labelling complaints as "inquisitorial" and "cleansing" actions.

The definition came from dean Marco Antonio Zago, at the University's Council last meeting of the year, held last Tuesday (December 9th). After announcing the budget cut of 30% for the next year, Zago introduced the agenda of the complaints, but chose to criticize the victims, rather than focus his criticism on the aggressors.

"These are isolated cases of a few (...)  USP will not, as a few people want, promote autos-de-fé ** (...) Complaints are inquisitorial and purifying actions," he said.

The report came from four student's representatives, all graduate students, who attended the meeting. According to them, teachers and principals who were also at the meeting made fun of the students at times everytime they had to speak and one of them even put the blame for violence reports on the Students' Union (DCE) and the student's movement. "A girl in panties  is a step to rape," he said.

In his speech, the student representative Gabriela Iron said some principals have been passing over cases of human rights violations. A director of Ribeirão Preto Medical School, then in provocative tone, would have made a joke and asked if he was included among them.

According to the students, disdain and jokes - one of the teachers would have shot on his mobile the speech of one of them in order to embarrass her - the meeting's apex would have been when Zago, the Dean, starred a moral agression on one of the students.

"After the pronouncement of one of the student's representatives on the budget issue, Zago simply did not recognize the legitimacy of her arguments and, before the whole council,
in an arbitrary and authoritarian manner, ordered her to return to the microphone and retract , since the dean disagreed with her arguments. Taking the floor, the student's representative was immediately interrupted by the rector, who repeatedly shouted at very high voice, 'you are unable to answer me', 'you are unable to answer me,' "said the student's representative, student of Nutrition, Vanessa Couto.

USP has not yet reacted on the account of the students' report. In a statement published on the meeting's day, on USP's website, dean Zago only states that "the University of São Paulo holds respectable history in the defense of individual and social rights" and reinforces his speech on the meeting: "Isolated actions of a  few, be they students, teachers or servers, shall not divert  USP from its role as a bulwark in defense of human rights, which does not mean promoting autos de fé, as some people want: everyone knows where inquisitorial and purifying action lead to. "


* The State of São Paulo House of Representatives.
** An auto-da-fé or auto-de-fé ("act of faith") was the ritual of public penance of condemned heretics and apostates that took place when the Spanish Inquisition, Portuguese Inquisition or the Mexican Inquistion had decided their punishment, followed by the execution by the civil authorities of the sentences imposed.  (Source:  Wikipedia, Auto-da-fé)

Sunday, September 07, 2014

Município catarinense discrimina oficialmente as mulheres solteiras

http://edicao.dom.sc.gov.br/0.576933001344541917_edicao_dom_1053_12.pdf

Vegonha nacional:  Município catarinense de Leoberto Leal discrimina oficialmente as mulheres, xingando as solteiras de "senhoritas".

A prova:  a Portaria de exoneração de servidora abaixo copiada, datada de 6 de julho de 2012.

Em pleno ano de 2012 um Município brasileiro desrespeita as cidadãs e a Constituição da República, que impõe a igualdade de direitos e de dignidade social entre mulheres e homens.  "Senhorita" é diminutivo de "senhora", significando, literalmente, que a mulher solteira é inferior à casada.  Quem chama uma mulher de "senhorita" está rebaixando a mulher assim chamada.

A França aboliu oficialmente o "mademoiselle" em 21.02.2012.  O Município de Leoberto Leal e sua então Prefeita (uma mulher discriminando as mulheres, cáspite!) estão no início do século passado, nos tempos do Código Civil de 1916, que possibilitava anulação do casamento, pedida pelo marido, se descobrisse, ao casar-se, que a noiva já não era virgem.

A Prefeita de Leoberto Leal, Tatiane Dutra Alves da Cunha, era do PMDB.

Nota 0 para essa Prefeita.



Portaria n.º 140, de 06 de julho de 2012.

“Exonera Servidora Municipal e dá outras
Providências”
TATIANE DUTRA ALVES DA CUNHA, Prefeita Municipal de Leoberto Leal, no uso de suas atribuições legais, e de acordo com o art. 66, inciso II da Lei Orgânica do Município, RESOLVE:
Art. 1º Exonerar a Senhorita BRUNA PRIM, Servidora Municipal inscrita sob a matrícula nº 1101, nomeada no cargo em comissão de Assessora de Assuntos Administrativos, com lotação no Gabinete da Prefeita, a partir de 06 de julho de 2012.
Art. 2º Esta portaria entra em vigor na data de sua assinatura, condicionado sua validade à publicação no DOM/SC, nos termos do Decreto nº 074/2011.
Leoberto Leal, 04 de junho de 2012.
Registre-se, Publique-se e Cumpra-se.
TATIANE DUTRA ALVES DA CUNHA
Prefeita Municipal



Monday, May 05, 2014

Slaughtering Eve


How many women worldwide die each year, due to gender-based violence?
I used to search for these figures without finding them;  all I could get were partial results, from this or that country.

I've searched at ONU website and found nothing.


Neverthless, the Geneva Centre for Democratic Control of Armed Forces, which report has been published by the UNICEF, estimates such deaths.

Study made by the Geneva Centre for the Democratic Control of Armed Forces, Women in an unsafe world, published in 2005, establishes a 100-200 million women deficit worldwide and estimates that 1.5 to 3 million women are killed worldwide each year, due to gender related violence.  As the study reports,  violence against women kills, every 2-4 years, as many as the Jewish Holocaust has killed.

Segue o link para o relatório, disponível na página do UNICEF:

The link to the report, availabe on UNICEF's page:

http://www.unicef.org/emerg/files/women_insecure_world.pdf

Massacrando Eva

Quantas mulheres morrem, por ano, no mundo, devido à violência de gênero?

Procurava esses números, sem encontrá-los;  só obtinha resultados parciais, deste ou daquele país.

Não encontrei nada no site da ONU.

A estimativa já foi feita pelo Centro de Geneva pelo Controle Democrático das Forças Armadas, cujo relatório foi publicado pelo UNICEF.

Estudo do Centro de Geneva pelo Controle Democrático das Forças Armadas, "Mulheres num mundo inseguro", publicado em 2005, apura um déficit de 100 a 200 milhões de mulheres no mundo, e estima que 1.5 a 3 milhões de mulheres são mortas por ano no mundo devido à violência de gênero.  Como relata o estudo,  a violência contra a mulher mata, a cada 2-4 anos, tanto quanto matou o Holocausto judeu.

O estudo foi publicado pelo UNICEF.
Segue o link para o relatório, disponível na página do UNICEF:
http://www.unicef.org/emerg/files/women_insecure_world.pdf

Abortos inseguros, setenta mil baixas por ano


 Matéria publicada no The Guardian, em 14 de Outubro de 2009:

"Abortos inseguros matam 70 mil por ano" (Editora Sarah Boseley)

Países com leis restritivas são os mais afetados;  relatório mundial mostra queda no número de aborto, segundo o Instituto Guttmacher.

Quase todos os abortos inseguros ocorreram em países menos desenvolvidos com leis de aborto restritivas, da África, América Latina e Caribe.

Os números são difíceis de obter nos países com leis restritivas.  
Em muitos países, há pouco aconselhamento em planejamento familiar e escassez de contraceptivos. 
Os EUA sempre foram o maior financiador do planejamento familiar em países em desenvolvimento, mas o Presidente George W. Bush removeu o financiamento para qualquer organização que tivesse a ver com aborto, ainda que aconselhamento.
Onde o uso de contraceptivos aumentou, como no antigo bloco soviético, as taxas de aborto caíram. A matéria do The Guardian conta que apenas 28% das mulheres casadas africanas usam contraceptivos, e a falta de oferta é o maior problema.

Na Nicarágua, onde passou lei restritiva, aumentou o suicídio de mulheres. 

Segue o link para a matéria do The Guardian:

"Unsafe abortions kill 70 thousand a year"

http://www.theguardian.com/lifeandstyle/2009/oct/14/unsafe-abortions-global-report


Tuesday, April 01, 2014

Os números do machismo

Notícia requentada, sei, mas a pesquisa entrega dados alarmantes. 

Que a boçalidade machista grassa no Brasil, eu não tinha dúvidas.  Tenho tido muitas experiências cotidianas desagradabílíssimas, desde que cheguei em Brasília, em 2010.

65% (sessenta e cinco por cento!) das pessoas ouvidas na pesquisa do IPEA acham que o modo de se vestir da mulher é causa de estupro.

40,9% concordam totalmente que o homem deva ser a cabeça do lar;  22,9% concordam parcialmente.  Logo, para 63,8% das pessoas ouvidas, a igualdade total entre mulher e homem, na família, determinação que está na lei maior do país, a Constituição, ou é ignorada ou, embora conhecida, alvo de desprezo.

 33,3% das pessoas ouvidas concordam totalmente com a afirmação de que casos de violência doméstica devem ser discutidos somente entre os membros da família, e 29,7% concordam parcialmente.  Logo, 60% dos brasileiros, em maior ou menor grau, preferem que a lei e a proteção do Estado não penetrem nas relações de família, aconteça o  que acontecer.

Um desorientado, com coluna em periódico de grande circulação nacional, reagiu à pesquisa, dizendo que ela induzia às respostas, e chamando as feministas de feminazi.

Todo apoio à campanha "Eu  Não Mereço Ser Estuprada".