"A Casa do Lago" parece ser mais um dentre os muitos filmes que situam os membros de um par romântico em épocas diferentes, como "Em Algum Lugar do Passado" e "Os Dois Mundos de Jeannie Logan". Porém, o que o faz interessante?
Tais filmes costumam provocar a rejeição dos expectadores mais cartesianos devido ao seu irrealismo, ao seu caráter fantástico. Das muitas experiências dadas como impossíveis pela razão de diferentes épocas, o ser humano já realizou muitas delas: em 1906, um mineiro chamado Santos Dumont voou sem balão num engenho chamado 14 Bis; em 12 de abril de 1961, um soviético chamado Gagarin tornou-se o primeiro homem no espaço e orbitou ao redor da Terra; em 16 de junho de 1963, a primeira mulher no espaço, Valentina Tereshkova; em 1969, o homem na Lua. No séc. XX, os vôos transcontinentais substituíram os navios nas longas viagens; inventaram o cinema, a televisão, o videocassete, hoje praticamente substituído pelo DVD, o telefone celular (os aparelhos estão cada vez mais diminutos), o notebook, o palm (meu amor não vive sem o seu), a internet. Quem sonharia com telefone celular e Internet em 1980? Ninguém que eu conheço. Quem, em 1870, sonharia com viagens espaciais? Em 1920, com o DVD?
Porém, há mais. Alguns assuntos permanecem na marginalidade, em maior ou em menor grau.
Desde 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, do Allan Kardec, tem havido pessoas que acreditam na comunicação com os espíritos, na reencarnação, assim como na clarividência e na clariaudiência. Porém, o assunto continua controverso. Os espíritas acreditam. Os não espíritas não aceitam. Têm havido filmes abordando tais temas também. O clássico do gênero é O Sexto Sentido.
E os ETs? Há quem diga tê-los visto. Quem não se lembra do "ET de Varginha"?
Porém, ainda não apareceu ninguém que afirme ter viajado no tempo. Por isso, filmes como "A Casa do Lago" parecerão absurdos aos olhos de muitos, que preferirão não vê-lo, por soarem mais fantásticos do que "Sinais", por exemplo.
"A Casa do Lago" não veio para nos falar de viagens no tempo: trata-se de uma metáfora. Merece ser visto sem preconceitos, com o coração aberto. O fato de Sandra Bullock viver em 2006 e Keanu Reaves, em 2004, é a metáfora do desencontro. Os diálogos, as cenas, as interpretações, tudo é sóbrio nesse filme. Ele não faz chorar: faz pensar. Faz sentir.
Em "A Casa do Lago", um deles terá que esperar. Muitas vezes será assim em nossas vidas. Noutras vezes, um deles terá que se apressar, porque o desencontro é o preço que pagamos por chegarmos muito cedo ou muito tarde também.
Às vezes, encontramos alguém, e mal nos damos conta do que acabou de acontecer nesse momento. Ou então, o contato entre os dois ocorre, despertando belas impressões que, profundas, perturbam, abalam tanto, que reagimos com medo, qual abatidos por um trauma: desenvolvemos uma amnésia que abrangerá somente aquela pessoa tão especial. Então, quando os deuses de tudo novamente reunem os dois, um deles descobre, estupefato, que esquecera da existência daquela outra pessoa.
"A Casa do Lago" nos mostra que, nos negócios do coração, deve-se ouvi-lo, desprezando-se as regras mesquinhas do mundo; que desencontros são superáveis com coragem e fé; que não existe amor impossível.Não percam o filme.
1 comment:
Viagens espaciais no século XIX... Não pensou no J. Verne?
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