Sabem aqueles filmes de que ouvimos falar quando são lançados, mas não assistimos? Passa ano, entra ano, vemos o filme nas prateleiras das locadoras e não o alugamos. Pois bem. Neste final-de-semana, assisti ao filme que leva o nome desta postagem. Tem mais de vinte anos, é com a Meryl Streep e o Jeremy Irons.
Não vou contar a história. Limito-me a recomendá-lo a quem ainda não o assistiu.
E por quê?
O filme mostra como a sociedade julga a mulher que não obedece as regras confinantes que foram inventadas para encarcerá-la: ou é prostituta ou é louca. Para chegar a tanto, a mulher não precisa ser nenhuma Lucrécia Bórgia, Maria I, a Louca (há quem diga que a rainha portuguesa não era louca coisa nenhuma), rodar bolsinha nem falar sozinha pelas ruas. Basta que ela ouse amar, saia sozinha, contemple o mar e se recuse a ser como todos querem que ela seja: conveniente, cordata e sem luz própria.
Certa vez, um homem muito caro conversava comigo. Ao saber que eu fizera todas as minhas viagens para fora do país sozinha (tinham sido apenas três), ele comentou: "Ah, você é corajosa!" Esse homem foi uma das poucas pessoas que não me julgaram mal por eu ser como sou e fazer as coisas que eu faço, as quais acho bastante banais: sair sozinha quando não tenho companhia, viajar sozinha, escrever poemas (e publicá-los de vez em quando), fazer a corte ao homem amado.
E hoje à tarde, eu assistia à TVE do Rio de Janeiro, na casa de meus pais. Passava um programa que eu não conhecia, mas de cara amei: um programa de História da Arte, com a Irmã Wendy. Imaginem uma freira católica, entre 50 e 60 anos, com seu longo hábito negro falando dos Impressionistas, do Monet, do Renoir, e chegando ao Van Gogh! Pois a Irmã Wendy, além de dotada de profundos conhecimentos de História da Arte, é observadora sensível às obras de arte e às vidas dos artistas. Pensamos na Igreja Católica com seus dogmas, e não imaginamos que possa uma freira falar com tanta beleza e sem nenhum preconceito da arte e dos artistas. Pensamos na Igreja Católica e seu anti-feminismo, mas a Irmã Wendy nos falou das pintoras impressionistas também. O que mais me chamou a atenção foi a maneira respeitosa e caridosa com que ela falou de Van Gogh, cuja vida foi tão difícil a ponto de ele mesmo terminá-la. Uma coisa ela disse no decorrer do programa, não me lembro suas palavras exatas, mas a mensagem é a seguinte: quem de nós não tem seus desequilíbrios ou singularidades?
Bem, "A Mulher do Tenente Francês" é um filme que merece ser visto. Ele mostra, ainda, o quanto nossa sociedade é, na essência, parecida com a da Inglaterra vitoriana: repressora, cheia de regras sem sentido, vive de aparências e julgadora implacável, sobretudo das mulheres.
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