No texto "Senhoritas: Nunca Mais", discorri sobre a necessidade de abolição dessa forma de tratamento antiquada e discriminatória.
Quem não gosta de boas maneiras? Quem não quer aprendê-las?
Voltando ao tema, podemos observar o quanto há de resquícios machistas na chamada etiqueta.
Muito bem.
Quem mulher casada nunca teve o desprazer de receber um envelope destinado "ao Sr. e Sra. Fulano de Tal"?
Pois é. Uma professora de Língua Portuguesa, num "site" destinado a tirar dúvidas de nosso idioma, recomendava o uso de tal fórmula nos envelopes contendo convites de casamento.
Se ela soubesse o quanto tal "lição" OFENDE os direitos fundamentais das mulheres, ela certamente não a teria dado.
A mulher tem, à luz da Constituição da República, a mesma dignidade, sem discriminação (art. 3., IV) que o homem e direitos IGUAIS, ainda que casada (arts. 5., "caput" e inciso I, e 226, par. 5.). Isso significa que não só o Estado, mas também o conjunto da sociedade, devem pautar-se pelo mais ABSOLUTO respeito à igualdade entre os sexos e à dignidade da mulher, que não é menor do que a do homem não. Qualquer tratamento dirigido a uma mulher, que a DIMINUA perante um homem, é INCONSTITUCIONAL e ILEGAL, fere os seus direitos.
Quando uma mulher é chamada de "Sra. FulanO de Tal", ela é tratada como PROPRIEDADE do homem, como SER DESPERSONALIZADO, SEM NOME, de MENOR IMPORTÂNCIA que o seu marido, seu "dono" e "senhor".
Portanto, NUNCA se dirijam a uma mulher casada como "Sra. Fulano de Tal", pois A TRADIÇÃO E OS USOS E COSTUMES NÃO ESTÃO ACIMA DOS DIREITOS DE UMA PESSOA.
Ah, Simone Andréa, mas você quer mudar o mundo? Que importância isso tem, como a mulher é chamada? Isso é preocupação pequeno-burguesa, de madame que não tem coisa melhor para fazer! Você devia se preocupar com as mulheres pobres e vítimas de violência, as que foram abandonadas pelos homens com filhos pequenos, com as crianças sem pai...
Já ouvi muito esse discurso proto-esquerdista, de quem posa de bonzinho, principalmente de boazinha e, já que não tem preparo teórico, nem espírito crítico e muito menos argumentos sólidos para se contrapor ao que digo, veste a capinha de caridoso(a) e tenta fazer crer que sou alienada em relação aos "reais" problemas. O mal de muitas feministas de primeiras viagens é cair diante de tais adversários: sua nobreza e altruísmo impressionam.
Pois eu prossigo.
Pois eu prossigo.
Pois bem. Como eu disse, a mulher, com o casamento, não deixa de ser Maria ou Clarice, ainda que adote o nome de família do marido.
A Constituição é clara: os direitos são iguais mesmo no casamento e o homem NÃO É MAIS O CHEFE da família. Esse costume de tratar a mulher casada como "Sra. Fulano de Tal" vem do tempo em que se forjaram as "senhoritas" e nos quais o homem era o chefe da família e a mulher devia-lhe obediência.
Portanto, "Sra. Fulano de Tal", NUNCA MAIS também. Quem insistir nessa fórmula, estará demonstrando sua falta de conhecimentos, além de desrespeitar a destinatária.
Outra atitude que deve ser evitada é chamar as jovens de "ô menina", "ô mocinha".
Há exceções? Sim. Já vi senhoras muito idosas dirigindo-se a mulheres jovens dessa maneira, mas em tom de doçura e amizade. No tempo em que elas foram criadas, isso era normal, elogioso, bonito.
Porém, essa abordagem, em tom imperativo, não pode ocorrer. Diminui e desmerece a mulher.
Em restaurantes, a etiqueta tradicional recomenda que o homem entre à frente da mulher, faça o pedido e pague a conta. E há quem recomende que ele acompanhe o pedido feito pela mulher.
Nada a ver.
Em primeiro lugar, conforme esclarece a Glória Kalil, essa tradição de o homem entrar à frente nos restaurantes vem do tempo em que cabia a ele verificar se o lugar era adequado para mulheres e crianças. A escritora, no seu livro mais recente, é clara no sentido de dizer que isso não mais se sustenta.
O homem fazer o pedido também não se justifica. A mulher não é alimentada por ele (espera-se que não). Além disso, ela tem boca e não é uma incapaz (também espera-se que não). O que a impede de falar com o garçom ou maitre ?
Já se vão os tempos em que a mulher não deveria falar com homens estranhos!
Já se vão os tempos em que a mulher não deveria falar com homens estranhos!
Quanto a pagar a conta, já há muitos manuais que recomendam o pagamento da conta por quem convida, ou a divisão da conta, independentemente do sexo das pessoas que comem juntas.
Certa vez, em Abril de 1997, convidei um homem para jantar comigo. Ele foi. Quando chegou a conta, eu, que tinha formulado o convite, quis pagar sozinha. Ele não deixou, insistiu na divisão meio a meio, argumentando, "é mais justo". Delicado, respeitoso, e sem nenhum resquício machista.
Mas e se o homem fizer questão?
Não é machismo, mas deferência. E pode ser sinal de que aí tem.
Mas e se o homem fizer questão?
Não é machismo, mas deferência. E pode ser sinal de que aí tem.
E abrir a porta do carro? O homem deve, pode ou nem pensar?
Não deve, mas pode.
Como assim?
Ele não tem essa obrigação só porque transporta uma mulher. Até porque, hoje em dia, os carros muitas vezes têm travas elétricas.
E o homem se oferecer para carregar a mala pesada da mulher?
E o homem se oferecer para carregar a mala pesada da mulher?
Esse é o tipo de ajuda e de gentileza bem-vinda, independentemente, aliás, do sexo de quem a presta e de quem a recebe. Tanto faz um homem ajudar uma mulher, como a mulher ajudar um homem. Exemplo: se estou sentada no ônibus, chega um rapaz perto de mim, com uma pasta pesada, eu me ofereço para levar. E eles aceitam.
E o homem dar a preferência para a mulher passar a pé?
Também não precisa. Antigamente, eu era radical, relutava aceitar. Hoje, não. Eles querem dar? Eu aceito.
É engraçado que eles fazem isso a pé, já no trânsito, em geral, eles dão é bronca. Não gostam de ver uma menina, senhora ou tigresa competente ao volante.
Palavrão perto de mulher?
Não vejo problema, desde que eles aceitem e respeitem a mulher que fala os seus.
Penso que chegou a hora de desmistificarmos o palavrão. Conheço um homem que os fala o tempo todo, nove entre dez palavras. Seu primeiro elogio para mim: "você é f...", no aumentativo.
Dizer que a mulher é bonita é desmerecer seu trabalho ou intelecto? É sinal de que "aí tem"?
São duas generalizações radicais, perigosas e muitas, muitas vezes injustas.
Depende do contexto, como o do chefe que assedia a funcionária; o colega que assedia a colega; o visitante que dá em cima da anfitriã. Ou o comentário do tipo, "tão bonita, nem parece policial/juíza/médica/astrofísica".
Porém, uma frase isolada não quer dizer nada.
São duas generalizações radicais, perigosas e muitas, muitas vezes injustas.
Depende do contexto, como o do chefe que assedia a funcionária; o colega que assedia a colega; o visitante que dá em cima da anfitriã. Ou o comentário do tipo, "tão bonita, nem parece policial/juíza/médica/astrofísica".
Porém, uma frase isolada não quer dizer nada.
Quem não gosta de ouvir que é bonita?
Já ouvi que sou bonita de senhor idoso, há tempos atrás, em pleno exercício da minha profissão. Porém, ali só havia uma coisa: elogio respeitoso, sincero e espontâneo, sem nenhuma, nenhuma outra intenção que não a liberdade de manifestação de opinião que ele tinha todo o direito de expressar.
Aliás, tenho plena convicção de que todos nós, mulheres e homens, temos o direito de elogiar a beleza de indivíduo do sexo oposto.
Lembro, porém, que a etiqueta sem machismo deve fazer parte, também, da conduta profissional e empresarial.
Quando uma mulher chega só num hotel, bar ou restaurante, É DEVER DO ESTABELECIMENTO TRATÁ-LA COM TODO O RESPEITO, igual ao que trataria um casal ou família.
Digo isso porque tenho sentido na pele esse tipo de preconceito.
Aliás, duplas de mulheres também o sofrem.
E todo estabelecimento tem que treinar seus funcionários para chamarem todas as clientes de "senhoras", se a opção for pela formalidade, jamais de "senhoritas"!
É abominável a diferença de tratamento entre casais e famílias, de um lado, e mulheres, de outro. A primeira pessoa que me chamou a atenção para isso foi minha irmã, quando jantávamos numa pizzaria de Sorocaba, em 1992.
Ela tinha acabado de se casar. Saímos para um jantar "a duas". Lá pelas tantas, ela observou: "Você já reparou como eles (os garçons) tratam melhor os casais e as famílias? Mal nos atendem? Nem olham para nós? Temos que chamá-los? É um absurdo isso, não?"
Hoje, moro em Brasília, e observo o quanto esse preconceito, por aqui, é mais forte do que em São Paulo.
Aliás, observo, por aqui, traços de monarquismo no comportamento de muitos. Excesso de deferência com quem tem "puder". Tapete vermelho para eles nos lugares abertos ao público. Isso, para mim, está muito longe das boas maneiras, numa sociedade republicana e democrática.
Um bom tema: etiqueta numa sociedade democrática.
Já ouvi que sou bonita de senhor idoso, há tempos atrás, em pleno exercício da minha profissão. Porém, ali só havia uma coisa: elogio respeitoso, sincero e espontâneo, sem nenhuma, nenhuma outra intenção que não a liberdade de manifestação de opinião que ele tinha todo o direito de expressar.
Aliás, tenho plena convicção de que todos nós, mulheres e homens, temos o direito de elogiar a beleza de indivíduo do sexo oposto.
Lembro, porém, que a etiqueta sem machismo deve fazer parte, também, da conduta profissional e empresarial.
Quando uma mulher chega só num hotel, bar ou restaurante, É DEVER DO ESTABELECIMENTO TRATÁ-LA COM TODO O RESPEITO, igual ao que trataria um casal ou família.
Digo isso porque tenho sentido na pele esse tipo de preconceito.
Aliás, duplas de mulheres também o sofrem.
E todo estabelecimento tem que treinar seus funcionários para chamarem todas as clientes de "senhoras", se a opção for pela formalidade, jamais de "senhoritas"!
É abominável a diferença de tratamento entre casais e famílias, de um lado, e mulheres, de outro. A primeira pessoa que me chamou a atenção para isso foi minha irmã, quando jantávamos numa pizzaria de Sorocaba, em 1992.
Ela tinha acabado de se casar. Saímos para um jantar "a duas". Lá pelas tantas, ela observou: "Você já reparou como eles (os garçons) tratam melhor os casais e as famílias? Mal nos atendem? Nem olham para nós? Temos que chamá-los? É um absurdo isso, não?"
Hoje, moro em Brasília, e observo o quanto esse preconceito, por aqui, é mais forte do que em São Paulo.
Aliás, observo, por aqui, traços de monarquismo no comportamento de muitos. Excesso de deferência com quem tem "puder". Tapete vermelho para eles nos lugares abertos ao público. Isso, para mim, está muito longe das boas maneiras, numa sociedade republicana e democrática.
Um bom tema: etiqueta numa sociedade democrática.
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