Saturday, December 25, 2021

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA É TORTURA

Há anos tenho lido matérias jornalísticas descrevendo histórias de mulheres que sofreram agressões físicas, verbais e psicológicas durante o parto.  Tais agressões provocaram sofrimento, dor e lesões nas mulheres e nos bebês que estavam nascendo.  Histórias de falta de profissionalismo.  Deboche.  Negligência.  Humilhação.  Gritos.  Sadismo.  Tortura. 

Histórias de traumas.  Lesões irreversíveis.  

Morte.

Num país cheio de homens e mulheres que vomitam o discursinho calhorda de "proteger as crianças", que põe vagas de gestantes em estacionamentos (para incentivar as classes proprietárias de automóveis a procriarem?  Na Europa não tem essa bobagem), proíbe o aborto e recusa a laqueadura, não é um contrassenso maltratar mães e bebês?

Quem pratica violência obstétrica  odeia e quer destruir mães e bebês.  

Vocês duvidam?

Mulher em trabalho de parto, mas sem dilatação.  Médica debocha da paciente, recusa-se a  ministrar-lhe anestesia, a fazer cesariana, grita com a paciente e ordena à enfermagem que a "largue".  Paciente tem que esperar pelo próximo plantão para não morrer junto com a criança.

Paciente chega ao hospital e recebe doses maciças  de ocitocina.  Tem contrações sem intervalo, e médica recusa-lhe anestesia, além de acusá-la de fraca.  Médica diz para a paciente que, se ela morrer, será enterrada, e que a morte é muito natural para os médicos.

Enfermeira fala alto que mães jovens são fracas e cesariana é para fracas.  Médicos dizem que a paciente não está em trabalho de parto.  Ela tem que esperar dois plantões até vir um médico e fazer uma cesariana de emergência.  Bebê nasce em sofrimento. 

Médicos fazem episiotomias não solicitadas em pacientes, que é um procedimento machista, corte cirúrgico feito na região entre a vagina e o ânus, durante o parto, para facilitar a saída do bebê.  Isso exige sutura posterior.  Por que não uma cesariana, ao invés de um corte tão incômodo e agressivo para a mulher, com altos riscos de sequelas, como incontinência urinária?

O pior foi saber que há médicas e enfermeiras entre os perpetradores.

Aqui não tem essa de "sororidade" não:  mulheres que praticam violência obstétrica são  tão sádicas, bandidas e machistas quanto os homens que a praticam.  

Violência obstétrica tem que ser enquadrada na Lei da Tortura - Lei 9455/1997, omissa quanto à discriminação contra as mulheres como causa da tortura.

Porém, em 2019, o Ministério da Saúde do Brasil, com base no Parecer CFM n° 32/2018, defenestrou o termo “violência obstétrica” de documentos de políticas públicas.  O Parecer CFM 32/2018 refere-se depreciativamente aos movimentos feministas.

 Realmente difundiu-se entre os movimentos feministas uma ideia fixa sobre como "deve ser" o parto:  vaginal.  Ora, isso é o CONTRÁRIO do Feminismo, doutrina pela liberdade das mulheres, jamais por sua tutela.

A Deputada estadual Janaína Paschoal foi muito criticada por criticar a ditadura do parto normal, tendo apresentado um projeto pelo qual as mulheres poderão optar pelo procedimento cirúrgico independentemente de indicação médica, sancionado pelo Governador de São Paulo.  

A ditadura do parto normal, inclusive, fomenta várias ocorrências de violência obstétrica.

O motivo dado pelo CFM para rejeitar a expressão violência obstétrica é que ela "ofenderia" os obstetras.

A violência obstétrica e a ditadura do parto normal, assim como a da amamentação, são facetas de um mesmo mal:  o machismo.


 


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