A Livraria Cultura, com sede em São Paulo e lojas no Brasil inteiro, acaba de provar seu machismo para mim.
Estou na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi de Brasília. Fui olhar as prateleiras dos livros em inglês, organizados em ordem alfabética de autor. Alguns achei, de Jane Austen a Nick Hornby. Outros, não.
Dai, numa prateleira atrás, encontrei outros autores (quase todas autoras), outra ordem alfabética. Ali havia desde EL James até Nicholas Sparks. Passava uma vendedora, perguntei a ela por que aqueles livros estavam separados dos demais. Ela entregou: "Aqui ficam os chick lits".
Chick lits: para quem não sabe, "literatura para moças".
Perguntei, "mas qual a razão desses livros estarem separados dos demais? Vocês não os consideram literatura?"
A moça respondeu: "esses livros estão separados porque são procurados por um tipo específico de pessoas".
Eu, "qual tipo?"
Ela, "ah, menina novinha, que está começando (?) a ler..."
Observação minha: são livros para público adulto.
Insisti, "os livros do Nick Hornby são do mesmo tipo de literatura, por que não estão aqui? Por que o público-alvo dele eh homem? Literatura para moços eh literatura, já escrito ou voltado para mulher eh chiclete lit?"
Dai a moça se atrapalhou, "não, mas nós vamos colocar..."
Enfim, eh isto: livros escritos por mulheres, voltados para as mulheres, logo recebem a pecha de "literatura para moças", ou "chick lit", e são separados, no caso da Livraria Cultura, até fisicamente, da "literatura" dita "seria". E, claro, desvalorizados. E seus leitores, porque supostamente leitoras, também desvalorizados.
Quanta ignorância! Quanta burrice do(a) gerente da Livraria Cultura do Iguatemi de Brasília! Não sabe que a Literatura eh uma só, não importa o sexo,cor, idade, estado civil seja dos autores, seja dos leitores. Não sabe que quem gosta de ler vai de Shakespeare a Angeli, de Marguerite Yourcenar a Saint Ex, de Stuart Mill ao que bem entender. Isso remete a uma prova de Francês que eu fiz, tinha compreensão oral, era uma entrevista com uma educadora, cujo tema era "como fazer minhas crianças gostarem de ler". E a educadora francesa respondia, crianças de pais que lêem na sua presença vão querer fazer a mesma coisa; a menina quer ler quadrinhos, por exemplo? Nada de preconceito!
Espero que essa palhaçada de desvalorizar a literatura produzida por mulheres ou voltada as mulheres acabe. Machismo puro e simples, isso eh o que eh.
Sunday, May 08, 2016
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