Durante a semana que passou, nem cogitei ir à praia ano cabo da semana. Ou eu ficaria em São Paulo, ou iria para o interior visitar a família. Porém, o Sábado chegou e, com ele, uma recém-desperta vontade de ver o mar, porque, ao entrar no meu escritório, encontrei uma lista de hotéis e pousadas em Caraguatatuba, que eu imprimira dias antes... Eu tinha um sonho antigo... Hospedar-me numa pousada que dá para uma certa praia...
Fevereiro de 1997. Naqueles tempos, tinha uma amiga muito, muito próxima, que me convidou para passar o Carnaval em Caraguá com ela, a mãe e o irmão (eles tinham uma casa no Centro de Caraguá). Porém, ela gostava de tomar banho de mar numa praia mais afastada e tranqüila. Ela pegava o carro e íamos até lá, estendíamos nas espreguiçadeiras e só almoçávamos às 16:00, 17:00 horas, refeição que ela chamava de "almojanta". Aquele Carnaval de 97 foi uma das minhas viagens mais caras, que eu relembraria com mais saudade e prazer, dessas viagens que dão certo desde o início. Ela passou na minha casa no meio da tarde de Sábado (lá pelas 15:30, 16:00 horas) e... Surpresa! Não encontramos trânsito na estrada, que parecia se estender só para nós. Fomos escutando MPB, que ela adora, ela pilotava o carro, eu ia trocando os CDs, e conversávamos muito, éramos românticas, sonhadoras, cheias de esperanças, mas também profissionais entusiasmadas durante o resto do tempo, auto-suficientes, não dependíamos de ninguém e estávamos construindo nossas vidas. Muito diferentes em certos aspectos, mas algo muito forte nos unia: uma amizade profunda e sincera, que já tinha resistido a uma prova há alguns anos atrás. E ali estávamos nós, dividindo aquele que seria um dos finais-de-semana mais felizes da minha vida, naquele ano incrível que foi 1997.
Minha amiga entrava na Tabatinga pela portaria do condomínio à beira-mar, deixava o carro no estacionamento, naquele tempo, não havia cancela nem portão, só uma guarita. Passávamos pela Pousada, ela me dizia, queria um dia me hospedar na Pousada Tabatinga. E imaginávamos o quanto custava, mas não perguntávamos. Numa manhã, ela contratou uma lancha que nos levou até uma ilha visível desde a praia. Mergulhamos, se pudéssemos, ficávamos por ali. Quando voltamos, ela me disse, estava um paraíso...
E estava mesmo, e eu me sentia completamente feliz, como se aqueles momentos e aquele lugar, juntos, fossem mágicos, embora eu não soubesse dizer porquê. Qual era a razão que faria uma mulher maior de 25, que conhecia o mar desde criança, encantar-se por aquele pedaço de espaço, naquele tempo?
Há em certas pessoas uma faculdade chamada intuição. Na maioria, é tão discreta que mal se manifesta. Em um número um pouco menor, é mais acentuada, mas sem que confira aos portadores poderes mais-que-terrenos. Em mim, ocorre uma estranha sensação de que algo (não sei o que) vai acontecer, logo (mas quando?). Era o que se passava comigo naqueles tempos.
2007. Resolvi, do nada, que iria a Caraguá e minha hora era aquela. Liguei para a pousada, a funcionária informou-me, temos quartos e está fazendo sol. "Irei", respondi. Peguei algumas mudas de roupa, o essencial, alguns CDs, entrei no carro e fui. Cheguei lá somente às 14:00 horas (eu não me levantei cedo no Sábado).
Agora, havia cancela e portões na portaria do condomínio dentro do qual situa-se a pousada, mas, ao finalmente entrar, emoção total. Tudo igual, o mesmo balcão de madeira à esquerda, a mesma disposição das espreguiçadeiras, a mesma tranqüilidade, porém com alegria. Fiquei até o final da tarde na praia. Depois, fui passear no Centro de Caraguá, revi a igreja, que eu não via há dez anos. Pensei, só falta ser de Santo Antônio! E era... Voltei quando a noite já tinha caído, 20:30, e, do meu carro, eu via a imensa lua cheia na estrada... Era uma lua de feiticeira!
Eram 22:30 e decidi ir olhar o mar. Grata surpresa, uma família, em torno de uma fogueira, improvisava um luau. Encontrei uma tenda aberta, com cadeiras, sentei-me e fiquei olhando aquela paisagem, pensando, hoje, quem sabe, eu poderia realizar um velho sonho... dormir na praia... e ali eu não precisava de mais nada.
Fui caminhando pela areia, onde as ondas chegavam. Fui me distanciando da pousada, mais, mais longe, a lua sempre comigo. Eram 23:30 quando retornei, com a certeza de que eu não tivera, em muitos anos, um final-de-semana como aquele.
No Domingo de manhã, sol, sol.
À tarde, dirigindo na estrada, uma palavra em minha mente: felicidade.
Felicidade.
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