Friday, August 25, 2017

O Diabo e a lei da selva


Reportagem da BBC Brasil de hoje (Sinto saudade de ser criança)relata o drama das mães-meninas do Amazonas.

Na matéria, três histórias de meninas:  duas tiveram a primeira gravidez aos 13, e outra, aos 14 anos.

Em TODAS as histórias, as gravidezes resultaram de estupro.  Os bandidos não punidos, estão soltos por aí.  E as três  meninas sofreram novos abusos depois disso, porque o Amazonas é um Estado onde estuprar é bonito e não dá cadeia.

Numa das histórias, a menina é evangélica e, ao invés de apoio para suportar a gravidez indesejada e punir o bandido, foi tratada como pária e impedida de conviver com os demais fiéis pelo pastor.  É razoável supor que esse pastor seja estuprador também.

Todas as meninas já têm mais de dois filhos.  Uma delas, já com dois filhos, implorou por uma laqueadura, mas foi impedida pelas limitações do(a) médico(a) que a atendeu.  Pela lei imbecil que dificulta a esterilização cirúrgica voluntária no Brasil, a Lei 9263/96 (Lei do Planejamento Familiar).

Segundo o Ministério da Saúde, na faixa de 10-14 anos, a taxa de fertilidade não caiu, contrariando a média nacional.

No Amazonas e na Região Norte do país, é muito fácil estuprar e engravidar uma criança.  Muitas vezes o bandido é da família.  A tolerância social com a canalhice masculina é total.  O homem pode tudo:  matar, estuprar, e mulher vale menos do que um peixe.  Esse é o Norte do Brasil.  A verdade tem que ser dita assim.

Quando uma mulher comete um erro, mínimo que seja, é maximizado, tratado como se fosse um crime hediondo.  Todos se lembram do caso ocorrido no Pará, em 2007, de uma menina de 15 anos foi presa por furto e  jogada na cadeia, numa cela só de homens (A menina paraense que virou notícia).  Um furto, crime sem violência ou ameaça, foi o suficiente para a reação da polícia e da "justiça" do Pará serem desproporcionais: jogar uma menor de idade numa cela só de homens!

Ela foi estuprada e espancada várias vezes.  A delegada e a juíza que cometeram esse ato de exceção estão por aí, IMPUNES.  O caso veio a público por iniciativa...  de um dos presos que testemunharam a agressão.

Não é o "diabo" cristão que entra no corpo das meninas, torna-as "devassas" e "sedutoras" dos pobres coitados dos homens.  É o contrário, mas com um detalhe:  o Diabo sabe o que faz.  Ele sabe, sim, que o que faz é errado e contra a lei.  Mas ele sabe que dá para fazer o diabo numa terra sem lei.

O Diabo tem vários nomes e várias identidades.  Um enfermeiro que acaricia a coxa da menina grávida que foi fazer um exame.  O pastor que segrega a menina grávida e solteira.  O irmão que estupra a irmã.  O padrasto, ou mesmo o pai (!) que estupra a filha (quase sempre menor de idade).  O Diabo é todo homem que viola e espanca, certo de que não vai pagar pelo que fez.

Amazonas e Pará, Estados da selva amazônica.  O diabo é a encarnação da lei da selva:  sem justiça.  Sobrevive o melhor caçador, ou aquele que de tão grande não pode ser caçado.  Lei do  mais forte. Vitória do mais violento e cruel.  É assim que tem sido na Região Norte do Brasil:  a lei da selva prevalece sobre a lei do Estado.  Não tem punição para o "mais forte" física, econômica ou socialmente.  O diabo está na lei da selva.  O diabo é do Amazonas.  E do Pará também.  E de onde mais estuprar seja mais forte do que a lei.




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