Sunday, August 01, 2010

Capital Estrangeiro Invade a Educação

Deu no "Estadão" de Domingo: grandes empresas, nacionais e estrangeiras, estão invadindo a educação privada brasileira! Empresas multinacionais estão comprando escolas privadas e universidades no Brasil!
Este mês, o Grupo Anglo foi comprado pela Abril Educação (que pertence, sim, ao mesmo grupo empresarial da Editora Abril, responsável pela revista Veja - Insuportável). A aquisição do Grupo Anglo pela Abril Educação, prossegue o Estado, deu-se numa "acirrada disputa" com a Editora Santillana, vinculada ao conglomerado espanhol Prisa, que edita o jornal El País, e com a Pearson Education Brasil, pertencente ao conglomerado britânico que edita o Financial Times e The Economist. Porém, a Pearson Education Brasil não se saiu nada mal: dez dias depois, ela comprou parte do controle acionário do Sistema Educacional Brasileiro - SEB - controlador do COC, Pueri Domus, Dom Bosco e Notre Dame. Os acionistas da SEB não queriam vender a empresa nem dividir o controle com sócios estrangeiros. Porém, depois da aquisição do Anglo pela Abril, cederam, receosos da competição. O valor pago pela Abril na primeira operação não foi revelado, mas estimam-se R$ 450 a R$ 600 milhões. Os britânicos pagaram mais: R$ 888 milhões.
Em 2009, o grupo educacional brasileiro Kroton, dono da rede Pitágoras, vendera 50% do controle acionário ao Advent, que é um fundo financeiro internacional! O Estado informa que o marco do ingresso do capital estrangeiro na educação brasileira foi a compra, em 2005, da Universidade Anhembi-Morumbi pela Laureate Education - um conglomerado que atua em 15 países e fatura US$ 648 milhões por ano. Em 2007, foram realizadas 25, vinte e cinco (!) aquisições (de escolas brasileiras por grandes empresas), 14 delas negociadas por conglomerados que levantaram R$ 1,3 bilhão em oferta primária de ações na BOVESPA.
O Grupo Anglo tem 211 mil alunos e 484 escolas localizadas em 316 municípios. Sua aquisição coloca a Abril Educação, na posição de segunda maior rede de ensino particular do País, com faturamento esperado de R$ 500 milhões em 2010.
Na área de educação, restam apenas dois grandes grupos brasileiros (que sempre se dedicaram somente à educação), o Positivo e o Objetivo.
Há meses, o governo pensou em fixar limites para as empresas de ensino, mas recuou, temendo que o mercado educacional brasileiro osse colocado pela OMC na mesa de negociações do Acordo Geral para o Comércio de Serviços. O Estado opina que "o problema não é a imposição de limites, mas o controle de qualidade do ensino ministrado por essas empresas."
Discordo.
O problema é, sim, a presença dessas empresas na educação brasileira, que é serviço essencialmente público, embora a Constituição permita, expressamente, sua oferta privada. A educação forma a mente de cada um, ninguém discute, ninguém duvida; influencia, quando não determina, as idéias, sentimentos, e o que cada um será no mundo. No passado, a educação não formava as meninas para serem mulheres médicas, advogadas, viajantes, assertivas, passionais, poetas, atrizes, engenheiras, motoristas. Por outro lado, formava os meninos para serem os homens donos do mundo, ou escravos dos donos do mundo... A geração obrigada a estudar Francês, se não aprendeu a conversar na língua de Baudelaire, aprendeu a ler na língua de Simone de Beauvoir, de Jacques Lacan, dos ideólogos de maio de 68. Felizes daqueles que sabem cantar Ne Me Quitte Pas e o que a letra significa!
Muito bem. Agora que vemos grandes grupos econômicos invadindo a educação privada brasileira, que, cada vez menos, pode ser chamada de educação, e, cada vez mais, não passa de um caça-níquel que tira dos pais de alunos o que eles têm e até o que não têm, em troca de um conteúdo que é um verdadeiro lixo, espero que possamos, finalmente, raciocinar um pouco. só um pouquinho, e tentar (não é difícil!) entender a relação entre a destruição proposital da escola pública, levada a cabo pelo Governo do Estado de São Paulo, primeiro, pela nada saudosa Rose Neubauer, Secretária de Educação do Governo Covas, e continuada pelos governos subsequentes, todos do mesmo partido. No meu tempo de menina, os filhos da classe média estudavam em escola pública. Tive colega filho de fiscal de rendas, duas filhas de industriais, de médico, dentista...
Tenho alguns amigos quinze, vinte anos mais velhos, e pais vivos. Eles me contaram como era a escola no seu tempo. Escola boa, "puxada", concorrida, era a escola pública! Tinha até vestibulinho para entrar na quinta série! Quem nela obtinha aprovação conseguia passar no vestibular da USP! Escola particular, normalmente, era para onde se mandavam os meninos menos estudiosos e as meninas casadoiras.
Com o passar dos anos, o processo de sucateamento da educação pública acentuou-se cada vez mais. Primeiro, no finalzinho dos anos 80 e início dos 90, com as crises econômicas por que passamos, e governos Quércia e Fleury, dos quais, espero, ninguém em sã consciência tenha saudades. Depois, com o Plano Real e a recuperação gradual da Economia e das finanças, era mais do que lógico e justo que esperássemos pela ressurreição da educação pública. Porém, não foi o que aconteceu: assistimos, passivos, apalermados, feito súditos de um tiranete assassino e insano, à destruição proposital da escola pública.
À essa altura, ninguém (governo, políticos, empresários - que são quem financiam os partidos, sobretudo os conservadores) queria ressucitar a escola pública do tempo da minha mãe, das minhas amigas dez ou quinze anos mais velhas do que eu. Por que ficaria muito caro? Não! Porque viram que a EDUCAÇÃO É UM MERCADO PROMISSOR, até então pouco explorado! Quem fornecia educação particular? Ordens religiosas atuantes na educação, como a dos salesianos, dos franciscanos; fundações voltadas à educação e cultura, sem fins lucrativos; uma ou outra empresa, surgida no seio da atividade da educação e voltada para ela, como o Objetivo e o Anglo. Grandes empresas, bancos? Não! Não tinham descoberto esse mercado, ainda não! Muito, muito dinheiro à vista!
Quem é a base de partidos como o PSDB? O empresariado nacional, que faz alianças com o capital estrangeiro, quando lhe convém. Muito, muito mais dinheiro à vista! Por que a Veja faz guerra contra os professores paulistas, com o sofisma de má-fé que eles não ganham mal, que o bom ensino não tem nada a ver com o salário dos professores, com aqueles textos mal-escritos, sem filosofia, enfim, sem NENHUM conhecimento do tema educação, escritos por um economista, um tal de Gustavo Ioschpe (certamente filho de algum empresário, da elite econômica, se não me engano, há ou havia algum grupo chamado Ioschpe). A Veja, excremento da Editora Abril, empreende verdadeira lavagem - ou será a inundação de águas podres? - cerebral nos leitores, para convencê-los de que o professorado paulista é despreparado porque vagabundo, de que o governo do Estado de São Paulo está certo na maneira como trata os professores, a educação, porque É DIRETAMENTE INTERESSADA NA DESTRUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA no Estado de São Paulo. Não foi por filantropia, espírito cívico ou amor ao povo que a Abril Educação foi parida. Foi por dinheiro mesmo. E, para que esse dinheiro não pare de crescer, é imperioso impedir o Estado de fazer "concorrência desleal" à Abril Educação. Em outras palavras, é imperioso que a destruição da escola pública continue. As multinacionais e os governos estrangeiros agradecem.
O que se pode esperar do conteúdo do ensino ministrado pela Abril Educação? Machista, ultraconservador, com ódio insano da esquerda e aversão ao povo. O que se pode esperar do conteúdo do ensino ministrado por escola controlada por conglomerado estrangeiro? Conforme aos interesses nacionais é que não será.


1 comment:

Merdarada said...

ABAIXO O BOM MOCISMO..MUITO BOM O TEXTO..PARABÉNS