Wednesday, February 14, 2007

Abaixo o Machismo do Jabor

Recebi por e-mail um texto do Arnaldo Jabor, que critica o destaque dado pela mídia a mulheres bonitas, ricas e famosas, como Adriane Galisteu, e não a outras, como uma médica alagoana que ele menciona.
Uma leitura superficial do texto do Jabor pode levar as pessoas a embarcarem no que ele diz.
Ele não se conforme com o que chama de "insensibilidade" e de "egoísmo" da Adriane Galisteu, só porque, numa entrevista dada à "Veja" há anos atrás, ela admite que gosta de dinheiro, não faz filantropia e confia mais nos bichos do que nas pessoas.
O Jabor zomba, como se "fizesse pouco" do fato de Galisteu ter perdido o pai aos 15 anos e ter sido pobre. Ele compara a apresentadora, implacavelmente, à tal médica alagoana, que foi criada num orfanato, quis ser médica, conseguiu e ainda estudou em Londres.
Acaso todo ser humano tem a obrigação de querer ser médico, dentista, advogado, ter profissão tradicional e "respeitável"?
Quantos médicos já não apareceram na mídia como criminosos?
Acaso ser uma celebridade midiática torna uma pessoa, necessariamente, "pior" do que um médico, advogado, etc.?
Quem é o Jabor para falar mal da Galisteu, se ele também é uma personalidade midiática, tanto quanto ela? Para quem não se lembra, esse senhor é um ex-cineasta que não filma, salvo engano, desde o fim da Embrafilme, ganhou notoriedade como comentarista do "Jornal Nacional" (elogiando o FHC) e, de uns tempos para cá, resolveu escrever livros. Se encontra quem o publique e compre seus livros, é porque é celebridade.
Se a Adriane Galisteu coloca-se a si mesma em primeiro lugar, ela está no exercício regular de seus direitos, porque ninguém é obrigado a fazer filantropia, a confiar em todo mundo e muito menos a desdenhar o dinheiro.
Se ela trabalha, paga seus impostos e compromissos em dia, o Jabor, e qualquer pessoa, que a deixem em paz. Aliás, ele que trate de não se meter com mulheres que trabalham, ganham seu dinheiro, honram seus compromissos e vá cuidar de sua vida!
Ao opor a Galisteu à tal médica, o Jabor, como típico machista, divide as mulheres em "santas" e "diabas".
As "santas são altruístas, não assumem que gostam de dinheiro, não querem reconhecimento. Já as "diabas" são individualistas, ambiciosas e competitivas. Se forem prósperas, então, aí, nem se fala!
Que "crime" e que "pecado" há em querermos ganhar dinheiro e recursarmo-nos a trabalhar de graça?
Trabalho remunerado é direito fundamental! Porém, para o Jabor, certamente as mulheres nasceram para trabalhar de graça, como no pré-Feminismo, servindo a todos com um sorriso no rosto. Por isso, 70 por cento dos pobres do mundo são mulheres, que não possuem mais do que 1 por cento das terras do globo (dados da ONU). Por quê? Porque, durante anos, não tiveram direitos privados, nem ao trabalho remunerado. Enfim, mal conqusitamos nosso direito ao trabalho e ao dinheiro, aparece um sujeito exortando as mulheres serem "boazinhas" e a dar o que ganham para os outros! É o fim!
Se a mulher não for um poço de virtudes cristãs ou politicamente corretas, recebe, a ferro, a marca de má.
E tem mais. O Jabor conta que a tal médica maravilhosa foi convidada para trabalhar em Houston, mas uma gravidez a surpreendeu. Ele revela: "Pediu 24 horas para pensar e optou pelo filho". Claro. Ele insinua, aqui, que "optar pelo filho", colocar o filho acima de si mesma, é mais uma virtude feminina. Afinal, as mulheres sempre foram cobradas a fazerem isso, colocar os filhos acima de si mesmas inclusive. E o Jabor quer nos enfiar, goela abaixo, essa lição de moralismo chauvinista e retrógrado. Ele não se conforma de Galisteu ter dito, "adoro dinheiro e detesto hipocrisia" e ter revelado que o que ela ganha, não doa.
E quem não gosta de dinheiro? Quem tem obrigação de dar o próprio dinheiro aos outros, fazer filantropia? Ninguém.
A ditadura da filantropia e do voluntariado servem bem ao Neoliberalismo que desmonta o Estado e acaba com políticas compensatórias. O Estado cobra impostos, não oferece serviços decentes e ainda cobra filantropia e voluntariado do povo...
Oh, sim, a médica-heroína tem projeto filantrópico para as criancinhas.
Nada contra a doutora eu tenho. Se for verdade o que o Jabor conta sobre ela, merece respeito. Porém, NÃO ACEITO que qualquer machista metido a pregador de virtudes para moças atreva-se a lançar críticas destrutivas contra uma mulher, apenas porque ela, sendo bonita e famosa, é individualista, trabalha, ganha honestamente o seu dinheiro e amealha bens.
Para o Jabor, certamente os homens podem fazer, sem culpas, tudo o que a Galisteu faz e o incomoda. Afinal, eles sempre se deram aoluxo de serem ambiciosos, individualistas, não trabalharem de graça, acumularem bens, estarem na mídia e serem respeitados. Ele "detona" a Galisteu, agora eu pergundo: por que não aparece ninguém para fazer o mesmo com ele, comparando-o a algum médico, educador, "bonzinho" que não esteja na mídia?
Talvez porque, na nossa sociedade machista, o moralismo canhestro determina que somente a mulher, e não o homem, tem um compromisso com a virtude.
Interessante que ratinhos, leões, hucks, maurys e chiquinhos não sejam exortados a serem bonzinhos...

Tuesday, February 06, 2007

Tabatinga Mon Amour

Durante a semana que passou, nem cogitei ir à praia ano cabo da semana. Ou eu ficaria em São Paulo, ou iria para o interior visitar a família. Porém, o Sábado chegou e, com ele, uma recém-desperta vontade de ver o mar, porque, ao entrar no meu escritório, encontrei uma lista de hotéis e pousadas em Caraguatatuba, que eu imprimira dias antes... Eu tinha um sonho antigo... Hospedar-me numa pousada que dá para uma certa praia...
Fevereiro de 1997. Naqueles tempos, tinha uma amiga muito, muito próxima, que me convidou para passar o Carnaval em Caraguá com ela, a mãe e o irmão (eles tinham uma casa no Centro de Caraguá). Porém, ela gostava de tomar banho de mar numa praia mais afastada e tranqüila. Ela pegava o carro e íamos até lá, estendíamos nas espreguiçadeiras e só almoçávamos às 16:00, 17:00 horas, refeição que ela chamava de "almojanta". Aquele Carnaval de 97 foi uma das minhas viagens mais caras, que eu relembraria com mais saudade e prazer, dessas viagens que dão certo desde o início. Ela passou na minha casa no meio da tarde de Sábado (lá pelas 15:30, 16:00 horas) e... Surpresa! Não encontramos trânsito na estrada, que parecia se estender só para nós. Fomos escutando MPB, que ela adora, ela pilotava o carro, eu ia trocando os CDs, e conversávamos muito, éramos românticas, sonhadoras, cheias de esperanças, mas também profissionais entusiasmadas durante o resto do tempo, auto-suficientes, não dependíamos de ninguém e estávamos construindo nossas vidas. Muito diferentes em certos aspectos, mas algo muito forte nos unia: uma amizade profunda e sincera, que já tinha resistido a uma prova há alguns anos atrás. E ali estávamos nós, dividindo aquele que seria um dos finais-de-semana mais felizes da minha vida, naquele ano incrível que foi 1997.
Minha amiga entrava na Tabatinga pela portaria do condomínio à beira-mar, deixava o carro no estacionamento, naquele tempo, não havia cancela nem portão, só uma guarita. Passávamos pela Pousada, ela me dizia, queria um dia me hospedar na Pousada Tabatinga. E imaginávamos o quanto custava, mas não perguntávamos. Numa manhã, ela contratou uma lancha que nos levou até uma ilha visível desde a praia. Mergulhamos, se pudéssemos, ficávamos por ali. Quando voltamos, ela me disse, estava um paraíso...
E estava mesmo, e eu me sentia completamente feliz, como se aqueles momentos e aquele lugar, juntos, fossem mágicos, embora eu não soubesse dizer porquê. Qual era a razão que faria uma mulher maior de 25, que conhecia o mar desde criança, encantar-se por aquele pedaço de espaço, naquele tempo?
Há em certas pessoas uma faculdade chamada intuição. Na maioria, é tão discreta que mal se manifesta. Em um número um pouco menor, é mais acentuada, mas sem que confira aos portadores poderes mais-que-terrenos. Em mim, ocorre uma estranha sensação de que algo (não sei o que) vai acontecer, logo (mas quando?). Era o que se passava comigo naqueles tempos.
2007. Resolvi, do nada, que iria a Caraguá e minha hora era aquela. Liguei para a pousada, a funcionária informou-me, temos quartos e está fazendo sol. "Irei", respondi. Peguei algumas mudas de roupa, o essencial, alguns CDs, entrei no carro e fui. Cheguei lá somente às 14:00 horas (eu não me levantei cedo no Sábado).
Agora, havia cancela e portões na portaria do condomínio dentro do qual situa-se a pousada, mas, ao finalmente entrar, emoção total. Tudo igual, o mesmo balcão de madeira à esquerda, a mesma disposição das espreguiçadeiras, a mesma tranqüilidade, porém com alegria. Fiquei até o final da tarde na praia. Depois, fui passear no Centro de Caraguá, revi a igreja, que eu não via há dez anos. Pensei, só falta ser de Santo Antônio! E era... Voltei quando a noite já tinha caído, 20:30, e, do meu carro, eu via a imensa lua cheia na estrada... Era uma lua de feiticeira!
Eram 22:30 e decidi ir olhar o mar. Grata surpresa, uma família, em torno de uma fogueira, improvisava um luau. Encontrei uma tenda aberta, com cadeiras, sentei-me e fiquei olhando aquela paisagem, pensando, hoje, quem sabe, eu poderia realizar um velho sonho... dormir na praia... e ali eu não precisava de mais nada.
Fui caminhando pela areia, onde as ondas chegavam. Fui me distanciando da pousada, mais, mais longe, a lua sempre comigo. Eram 23:30 quando retornei, com a certeza de que eu não tivera, em muitos anos, um final-de-semana como aquele.
No Domingo de manhã, sol, sol.
À tarde, dirigindo na estrada, uma palavra em minha mente: felicidade.
Felicidade.