Monday, January 29, 2007

Quando Fomos Incríveis

Há anos atrás, na TV Cultura, passava um seriado chamado "Anos Incríveis", que passei a assistir por sugestão do amigo Luiz, que, aliás, sempre foi ótimo conselheiro.
Kevin era o menino-protagonista que pensava alto para a teleaudiência e saía-se muito bem com suas sacadas. Sua idade? Não me lembro ao certo. Acho que o Kevin tinha entre 10 e 13. Assim, as tramas do seriado variavam de relação com pais, professores, colegas, namoradinha.
Anos incríveis. Outro dia, refletindo sobre a minha, as nossas vidas, essa expressão acudiu-me à mente.
Eu andava a cismar, o que farei de bom por mim neste ano que se inicia, além de trabalhar e cuidar de mim? O ano da diversão e arte tão somente já se foi, e novos conhecimentos, novas fronteiras convocam-me à expansão. Vou estudar Francês, para aprender a falar essa língua comme il faut? Volto a aprender Russo também? O Espanhol e o Italiano também me tentam. A pós que tentei ainda não foi desta vez, portanto, posso aproveitar o ano para me atualizar. Então me dei conta de que tenho andado, além de irresoluta, preguiçosa, devagar. E lembrei-me do final da minha infância e do começo da minha juventude.
Com onze anos, cismei que faria ginástica olímpica. Consegui cooptar a concordância de meu pai, que me matriculou no Sesi de minha cidade natal. O local era longe de casa, a rigor, eu teria que tomar dois ônibus para ir e dois para voltar. Mas não: eu andava do Sesi até o centro da cidade, e, de lá, tomava o ônibus para minha casa. Isso, durante dois anos, três vezes por semana. As tardes dos outros dois dias da semana eram dedicados a aulas de Inglês, idioma que estudei, sistematicamente, durante cinco anos.
Em 1982, meu pai decidiu que eu faria Francês e me matriculou num curso de Sábado. A princípio, achei muito cedo, mas daí, a coisa foi se tornando interessante. Porém, foi um curso mais curto, que durou dois anos.
Em 1986, não fiz cursos de línguas. Dediquei-me totalmente à preparação para o vestibular, acho que nunca estudei tanto na minha vida, pois queria entrar na USP. Consegui.
Nunca deixei de ser vaidosa, de me cuidar, de procurar ficar "gatinha". Nos finais de semana, a partir de 1984, eu saía com minha irmã e suas amigas, e vira-e-mexe "ficava" com alguém, dançava muito, toda noite de Sábado era uma aventura na qual tudo podia acontecer.
Esses foram meus anos incríveis.
Olho para trás, é o que posso dizer.
Eu era tão nova, uma garota, entrei na faculdade aos 17 anos, e já tinha realizado coisas que seriam fundamentais na minha vida adulta. Está bem, os cursos de línguas foram iniciativa do meu pai, mas eu não me contentei em tirar notinhas e passar; quis aprender. Meu Francês não é tudo isso, mas o Inglês é bom, dá para eu inclusive assistir peças, ler livros inteiros e me comunicar com nativos sem tropeços. Mas fazer ginástica olímpica e entrar na USP foram idéias minhas, que, aliás, a família não aprovava.
E, conversando com um amigo, cheguei à conclusão de que, para ele, sua juventude também correspondeu aos seus anos incríveis. Ele, nordestino genuíno da zona rural, aos 13 anos somente foi à escola. O ginásio, cursou supletivo. Contou-me que estudava tanto a ponto de dormir quatro, cinco horas por noite, escondido do seu pai, que exigia que ele dorimisse direito. Ele fez um curso por correspondência (!) e aprendeu bastante; daí, foi camelô, depois, entrou numa empresa do ramo que o interessava, e... prestou vestibulinho e entrou numa conceituada escola pública para cursar o segundo grau. Ao terminar esses estudos, prestou um concurso público e veio parar em São Paulo. O cargo dele? É bastante respeitável.
Enfim, quando somos bem jovens, somos pessoas comuns capazes de coisas incríveis. Quem já não se sentiu assim?
Por isso, faz sentido aquele velho ditado, "é de pequenino que se torce o pepino".
E as crianças e os jovens de hoje? O que será de seus Anos Incríveis?

Monday, January 08, 2007

Eu Amo Recife

Outubro de 2002. Decido, pela primeira vez na vida, comprar um pacote de Réveillon.
Antes, eu só saíra de Sampa para ficar na casa de familiares ou amigos.
Explico o que quero para a funcionária da operadora: cidade praiana, mas sem o auê de Porto Seguro. Peço um hotel com festa. Já estou interessada em Recife, que ela me recomenda.
Era o começo de uma paixão.
Este ano, lá fui eu de novo passar o Réveillon na capital do Leão do Norte.
Novamente, assaltou-me a vontade louca de prestar um concurso público federal e morar lá. Os recifenses recebem com carinho, a cidade respira arte, cultura e seus jornais deixam clara a paixão pela política. E a cor e a temperatura do mar...
Tudo deu certo: do vôo, que não partiu atrasado de Cumbica, à festa, na qual tive a sorte de ficar na mesa de uma baiana que também viajava só. Excelente companhia, mais moça do que eu, profissional das exatas. Após a festa, ela me levou para o mar, no qual entrou de roupa e tudo. Eu me limitei a molhar as canelas. Dançamos mais um pouco na calçada da praia.
No penúltimo dia, à tarde, visitei o Instituto Ricardo Brennand.
Esse homem teve um sonho: construir um castelo medieval que servisse de museu. Sem patrocínio (segundo informações que recebi de recifenses), ele levou a cabo seu projeto por sua conta e risco. O resultado lembra os sítios dos palácios europeus: uma longa via dá acesso à portaria do Instituto, composto das duas edificações estilo Tudor, lago e jardins. Nos jardins laterais, várias esculturas. No prédio à esquerda de quem ingressa, o museu voltado às artes plásticas, pinturas, esculturas, gravuras, e também museu de cera, loja e café; no prédio à direita, no castelo, armarias.
Enfim, o Instituto Ricardo Brennand é um lugar que convida ao sonho e ao conhecimento.
De Recife, já estou com saudades.